Postagens

O sonho de Carlito sem chão [*]

Imagem
* 1º Lugar no Talentos Fenae 2021 – Etapa Estadual – Categoria poesia   Nasceu no lombo do vento, Numa manhã de primavera, Contando velhas quimeras, Hoje vive no vago relento. Neste tosco acampamento, Numa rua mundo afora, O horizonte foi embora, Deixou encilhado o pingo, Numa tarde de domingo, E na vida bateu esporas.   Carlito sonhou com la sierra, Ao lado de Che e Fidel. Num galope de corcel, Fez a paz e fez a guerra. E a sua vida encerra, Restos de uma utopia, Revira frangalhos nos dias, Num andar complacente, Vai num tranco o vivente, Que a indiferença vigia.   Sob o manto do céu azul, Numa noite de estrelas, Querendo eternamente vê-las, Com Camilo e com Raul, Foram às bandas do sul, Atrás da alma centelha, Tremula a bandeira vermelha, Com ganas de índio pampeano, Na cauda do vento aragano, Ou na cancha reta parelha.   Carlito reviveu Camilo, A vida melhor para o mundo, Fez das horas um segundo, Lutou co

Entre o céu e o chão da querência [*]

Imagem
[*] Classificada para o 7° Candieiro da canção e da poesia de Uruguaiana 2023.   Sou desatento da geografia, Da pampa sem sentinela, E da fronteira sem tramela. Tranquila a vida seguia, O quero-quero anoitecia, Cânticos no céu da querência. Num clarão da existência, Das mágoas que sofro calado, Junto ao lenço colorado, Guardião da minha essência.   Colhia pitanga nas tardes, A china sempre ao meu lado. Num rincão arredondado, Pelo infinito da imensidade. No céu hay muitas verdades, Que nos distancia da infância. E sorvia léguas de estância, Afogava os sonhos na sanga, Mas a chuva no céu desanca, Estimula sonhos de ausências.   Tenho um peito vermelho, E a alma castelhana. A minha sina aragana, Trago de muitos rodeios. Porque o futuro é o espelho, Nas águas de uma lagoa, E lá que o andejo ressoa, E onde a vida é mais densa. O reflexo da pampa imensa, Na coplita charrua que entoa.   Estou liberto deste mapa, Das

As flores

Imagem
Athos Ronaldo Miralha da Cunha   Há um agradável perfume no ar. Um estranho cheiro de terra, de relva e de mar. São flores que desabrocham nos mais diversos lugares. São girassóis, margaridas e camomilas ao sol. São rosas nos pomares. São pétalas esparramadas aos cuidados dos nevoeiros das primeiras horas.   Há uma essência de flores na cidade. Múltiplos aromas que exalam cheiros de todas as idades. É um cheiro de crianças que imploram trocados nos cruzamentos. É um cheiro de mulheres que rogam por seus rebentos.   Nesses dias que antecedem o inverno, temos aromas de antigos amores nos catres vazios. Esses dias preenchem os sonhos com perfumes ausentes. E proliferam cheiros de jovens amantes. É alguma coisa delirante. Imprudente. É um cheiro de atrevimento e contestação.   A cidade está impregnada pela essência de trabalhadores que assentam ilusões. Que contam segredos e fogem dos medos quando o sol se põe. É

Rosa Chimanga dos olhos verdes [*]

Imagem
[*] Classificada para o 7° Candieiro da canção e da poesia de Uruguaiana 2023.   Um ventito soprou nas margens, Do silêncio noturno das matas, E a chimanga em lua de prata, Um clarão de vida na paisagem. O meu olhar despe a imagem, Que vem na curva dos caminhos. Dedilho acordes no pinho, Sinto a tua flor na distância, Aspiro lonjuras de estância, No aconchego dos teus carinhos.   Vertentes nos olhares que alonga, Um incerto destino estradeiro, Foi-se ao léu o sonho posteiro, Num choramingo de milonga. Vivo em noites de ronda, Pelos olhos verdes de luz, Os eternos sonhos que conduz, No galope de meu Picaço, E o aconchego do abraço, Nos versos que não compus.     Chimarreio um pensamento, Com a Rosa dos olhos verdes, Portas, janelas e paredes, Fazem o meu confinamento, Lá fora um dia cinzento, Que encerra a minha cancela, Meus desejos são as tramelas, Do sorriso desta chirua, Que dá forma ao clarão da lua, E abre a pampa